quarta-feira, 2 de março de 2022

 


A história ensina

C:\Users\Utilizador\Desktop\image.jpg


Com o forte poderio militar russo, não há que ter dúvidas que Kiev poderá cair a qualquer

momento, mas há uma coisa que os russos não se livram que é da desgastante e cruel guerra

de guerrilha, ou guerra subversiva, que é a mais difícil de combater.

E voltando aos meus exemplos históricos, no tempo da nossa guerra colonial, a situação na

Guiné-Bissau era muito complicada, para não se dizer desesperada, com a maioria dos

aquartelamentos cercados por forças de guerrilha do PAIGC, numa guerra que estava a correr

muito mal para Portugal. Preocupado com a situação, António Oliveira Salazar resolveu

convidar na altura, o Brigadeiro António Spínola, para Governador Geral da Guiné. Logo nos

primeiros meses, António Spínola percebeu logo que aquela guerra não poderia ser ganha no

campo militar, mas sim político, tal era a organização e força da guerrilha do PAIGC. Para

tentar convencer Salazar a enveredar para uma resolução política para o problema da Guiné,

numa audiência ao ditador, fez esta brilhante comparação:

- Imagine Vossa Excelência que uma pessoa dorme num celeiro e que todas as noites uma

pulguinha o atormente, não o deixando dormir. Farto dos ataques da pulguinha, começa a

pensar em três opções: ou pega fogo ao celeiro, o que não é nada conveniente, pois os

prejuízos serão inimagináveis; ou tenta caçar a pulguinha, o que será extremamente difícil

no meio de tantos fardos de palha; ou então, terá de começar a pensar em conversar com a

pulguinha.

Por isso sr. Presidente do Conselho, acho que no caso da Guiné, se calhar a melhor solução

será estabelecermos negociações honrosas para Portugal.

Efetivamente, de volta à Guiné, Spínola começou a estabelecer contactos secretos com altos

dirigentes do PAIGC, na medida de se achar uma solução negociada para a guerra de guerrilha

na Guiné Bissau, intentos, que após da famosa queda da cadeira de Salazar, foram 5 anos

depois suspensos por ordem compulsiva de Marcelo Caetano, pressionado pelos ultras do


regime, e que no fim de contas levou ao fim do Estado Novo, com um golpe-de-estado levado

a cabo por jovens militares fartos desta anacrónica e irracional guerra colonial.

É precisamente neste ambiente que hoje se vive na Ucrânia. Putine pensava que seria um

passeio até Kiev, e não está a ser, e já se viu obrigado a conversar com a “pulguinha” azul e

amarela, entre ameaças de pegar fogo “ao palheiro ucraniano e europeu” com poderosas

armas. E como nos aconteceu na Guiné (o nosso Vietname), onde sangramos como patos num

picadeiro, o mesmo vai acontecer com o idiota de Putin, na Ucrânia, mesmo que tome todas as

cidades e vilas do país. E como a nós veio o 25 de Abril e o fim do regime, o Putine também

não vai escapar a este determinismo implacável da história.

Gil Canha

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários são sujeitos a moderação. Ainda que sejam anónimos, são permitidos, desde que não usem linguagem ofensiva ou que sirvam para difamar terceiros.

  "Nómadas Digitais" versus "função pública portuguesa" Por Donato Macedo A transição para a economia digital está na po...