"Partido do Calhau"
Imagine uma praia de calhau e um livro bilingue editado pelo Partido Comunista Chinês, com as frases sacralizadas do grande obreiro da revolução cultural chinesa de 1957 - Mao Tse-Tung, cujo principal legado, foi ter aniquilado à volta de 77 milhões de seres humanos.
Captei esta foto no ano passado. Foi numa epifania auto-induzida. Poder-se-á perguntar: mas o que faz um indivíduo na praia a ler aquilo em 2021?? Só pode ter um "calhau" dentro da cabeça. Acertaram. Eu também leio as publicações do "Avante", mas nos últimos anos deixei-me disso, pois a luta amoleceu em Portugal. Tenho esperança que a partir das últimas eleições aquilo "acorde". Daí ter escolhido «The Quotations From Chairman Mao Tse-Tung». É muito interessante e recomendo. Sente-se aquele friozinho na coluna tal como sentiu o Dr. Alan Grant (interpretado pelo ator Sam Neil), quando viu o enorme dinossauro na Ilha Nublar próximo da Costa Rica, no filme Parque Jurássico, realizado em 1993 por Steven Spielberg. O mundo ali retratado é fascinante no livro, mas tenebroso quando transposto para a vida real. O Comunismo é isso.
O "conhecimento" já ocupou mais espaço do que agora. Basta vermos o tamanho dos primeiros computadores comparativamente aos nossos telefones que hoje têm muito mais capacidades de processamento de informação. Mas, a nossa capacidade de conhecimento, experiência, etc, basicamente mantém-se inalterável, pelo menos desde o tempo em que tenho consciência. Podemos ter mais ou menos memória, mas pela nossa experiência de tentativa e erro, vamos aprendendo empiricamente. Nas diversas latitudes onde o Marxismo-Leninismo foi aplicado, o desenvolvimento não foi assim nada de extraordinário. Pelo menos dentro da semântica do conceito dado como consensual do que é comummente entendido o étimo "desenvolvimento".
Normalmente sempre foi através de revoluções sangrentas e de desapropriação ilegítima dos bens de produção que se colocaram em prática estas ideologias. E isso em favor duma pseuda-colectivização dos mesmos, mediante por exemplo, de uma execução em massa de latifundiários. Trocou-se uma ditadura de concentração de recursos duma sociedade estratificada, por uma outra ditadura, a do proletariado, que é muito mais ideológica do que funcional. Aliás, basta observarmos todas as experiências nas várias latitudes onde se ensaiou e ainda se ensaiam estas ideias. Têm padrões de ausência de democraticidade que se observa no deserto das oposições que são ferreamente condicionadas, e onde a liberdade de imprensa e opinião simplesmente não existem, além de que os índices de perceção de corrupção que minam transversalmente o Estado.
Por isso quando ouço alguém (legitimamente) defender e professar estas ideias, mais do apetecer "atirar um calhau", vislumbro como uma miragem um enorme "calhau" no lugar das suas cabeças. Se estas ideologias vingassem em Portugal no PREC (Processo Revolucionário em Curso) de 1974/75 e fôssemos apenas um país satélite da ex-União Soviética na Península Ibérica, (tal como os restantes estados da antiga cortina de ferro e do Pacto de Varsóvia), gostaria de ver se a oposição teria as mesmas oportunidades da democracia, assim como teve o PCP e outros camaradas afins.
O meu partido do calhau, fica mesmo pela praia, contudo sempre revisitado, para que eu me relembre do arquétipo que abomino. Sou militantemente um anti-comunista primário. A foice e o martelo ficam ficam bem numa exposição etnográfica.